O Rio que passou em minha vida foi repleto de passagens e paisagens, que marcaram todos os espaços, e serviram de rascunho para uma pequena caminhada por caminhos às vezes sem rumo e sem destino. Num passeio pelas postagens ontem do Blog Cariricaturas, deparei-me com uma figura que marcou durante anos, um pouco da minha vida boêmia pelos espaços perdidos da Lapa; o meu amigo Ismael Silva.
O meu primeiro contato com Ismael foi através de Normando, meu irmão, e travamos uma amizade que diariamente marcava ponto num bar pé-sujo da Avenida Gomes Freire, onde jantávamos e trocávamos conversas, estórias, e histórias, dos encontros e desencontros da sua trajetória pelo mundo da música. Seu andar trôpego vitimado por um cravo na sola de um pé, fazia dele uma figura diferente, pois para descansar do incômodo, ficava sempre com um olhar a fitar a distância, como se tivesse espreitando ou investigando algo que estivesse lhe interessando. Numa noite depois de um show no Teatro Opinião, de volta a Lapa, me confidenciou que a maior tristeza da sua vida, era ter perdido por negligência um exemplar do seu primeiro disco, e isso lhe acarretava um sofrimento infinito. Confesso que fiquei emocionado, pois sabia que nos meus alfarrábios, guardava aquela preciosidade, presente do meu alfaiate Daniel que era sabedor da amizade e do carinho que devotava pelo Ismael. Foi um dia difícil de passar, pensando no presente que daria ao meu querido amigo. Como de praxe fui ao seu encontro, e lhe falei: Veja só o que trouxe de lembrança pra você. Seus olhos marejaram, recebi um forte abraço, e a promessa de dar-me o primeiro exemplar que recebesse do seu novo disco.
Cumpriu a promessa, e a nossa amizade virou uma irmandade, irmandade essa, que carrego até hoje, guardando as lembranças desse Rio que passou em minha vida, mais que deixou boas e belas recordações.